sábado, 10 de setembro de 2011

Mensagens para refletir

A história do Lápis

O menino olhava a avó escrevendo uma carta. A certa altura perguntou:

- Você está escrevendo uma história que aconteceu conosco? E, por acaso, é uma história sobre mim?

A avó parou a carta, sorriu, e comentou com o neto:

- Estou escrevendo sobre você, é verdade. Entretanto, mais importante do que as palavras, é o lápis que estou usando. Gostaria que você fosse como ele, quando crescesse.

O menino olhou para o lápis, intrigado, e não viu nada de especial.

- Mas ele é igual a todos os lápis que vi em minha vida!

- Tudo depende do modo como você olha as coisas. Há cinco qualidades nele que, se você conseguir mantê-las, será sempre uma pessoa em paz com o mundo.

Primeira qualidade: você pode fazer grandes coisas, mas não deve esquecer nunca que existe uma Mão que guia seus passos. Essa mão nós chamamos de Deus, e Ele deve sempre conduzi-lo em direção à Sua vontade.

Segunda qualidade: de vez em quando eu preciso parar o que estou escrevendo, e usar o apontador. Isso faz com que o lápis sofra um pouco, mas no final, ele está mais afiado. Portanto, saiba suportar algumas dores, porque elas o farão ser uma pessoa melhor.

Terceira qualidade: o lápis sempre permite que usemos uma borracha para apagar aquilo que estava errado. Entenda que corrigir uma coisa que fizemos não é necessariamente algo mau, mas algo importante para nos manter no caminho da justiça.
Quarta qualidade: o que realmente importa no lápis não é a madeira ou sua forma exterior, mas o grafite que está dentro. Portanto, sempre cuide daquilo que acontece dentro de você.

Finalmente, a Quinta qualidade do lápis: ele sempre deixa uma marca. Da mesma maneira, saiba que tudo que você fizer na vida, irá deixar traços, portanto procure ser consciente de cada ação.

(PAULO COELHO)







Nesta escola não existe...

Nesta escola não existe o aluno 18, da sexta série B.

Existe, é claro, o Ricardo que tem olhos azuis e é filho do Sr. Guilherme e de dona Margarida. Ricardo é um menino inteligente, vivo, brincalhão ainda que tenha sérias dificuldades para perceber com clareza os limites que separam seus anseios de liberdade e os que a escola está buscando estruturar. Resiste como toda criança inteligência o faz, mas seu progresso é indiscutível, sobretudo depois que conversando com o Sr. Guilherme e dona Margarida pudemos mostrar que toda escola é uma continuidade do lar. Não apresenta qualquer dificuldade de aprendizagem, mas como não gosta muito de estudar e, por isso, necessita de reforço, já providenciado, em algumas disciplinas. Estamos pensando sempre no futuro de Ricardo, mas em nenhum instante esquecemos seu presente e, por isso, sem que saiba consome nossas discussões e nossas preocupações em fazê-lo cada vez mais feliz, cada vez mais envolvido no que aprende e na indispensável relação entre o saber e o viver.

Nesta escola não existe o professor de Matemática, da sexta série B.

Existe o Luiz Henrique que ensina disciplina para essa série e que nos interessa tanto quanto profissional como por seus valores humanos. Investimos com firmeza em seu aperfeiçoamento, instigamo-lo a crescer sempre e aprender cada vez mais e mostramos com insistência que o prazer com que divaga pelos números e pelas formas geométricas deve ser o mesmo com que mergulha nos segredos da aprendizagem e nos valores de uma avaliação formativa. Luiz Henrique tem duas filhas e atravessa momento difícil em sua relação com Márcia sua esposa. Sabemos de suas dificuldades e com extremo respeito para não atravessarmos a tênue barreira entre seu direito à privacidade e sua necessidade de ajuda, colocamos nosso serviço de orientação psicológica ao seu dispor. Confiamos em nossos mestres e sabemos que para torná-los ainda melhores é preciso ajudá-lo muito, cuidar sempre de seu trabalho e de sua segurança, de sua alegria em ensinar e sua imensa vontade em viver.

Nesta escola não existe a funcionária do turno da manhã que cuida da limpeza dos banheiros.

Existe a senhora Ivani que desempenha essa função, mas que para nós não é, e jamais será apenas um vago Recurso Humano, mas pessoa viva e capaz que merece nossa atenção, tanto quanto a merecem pessoas como Ricardo e Guilherme, Margarida e Márcia, Luiz Henrique e outros muitos. Sabemos que em sua tarefa de cuidar, a senhora Ivani é importante educadora e por isso mesmo ao contratá-la analfabeta, orgulhamo-nos de ensiná-la e de com seu crescer, fortalecer sua auto-estima e encontrar a dignidade no importante trabalho que executa. Sua saúde nos preocupa e, por esse motivo, cuidamos de forma permanente de sua educação alimentar, da higiene no lar e no trabalho e na medida do possível, buscamos ajudá-la em sua vida como mãe e como mulher, pois sabemos que quanto mais crescer, mais fará pela obra maravilhosa do crescimento de todos nós.

Nesta escola não existe...

Desculpe a divagação. Melhor seria pisar fundo na terra, descer dessa cavalgada de sonhos pela escola que buscamos e crer que a frase ficaria melhor composta se disséssemos “esta escola não existe”.  Entretanto não é necessário renunciar a esperança e nem acreditar que a crua realidade seja menos fantasiosa que a delícia do sonho, e assim pensar: que pena, essa escola “ainda” não existe.                                                                  (Celso Antunes)





[invernodoodle24.gif]

O importante da amizade

O importante da amizade não é conhecer o amigo;
e sim saber o que há dentro dele!...

Cada amigo novo que ganhamos na vida, nos aperfeiçoa e enriquece, não pelo que nos dá, mas pelo
quanto descobrimos de nós mesmos.

Ser amigo não é coisa de um dia. São gestos, palavras,sentimentos que se solidificam no tempo
e não se apagam jamais.

O amigo revela, desvenda, conforta.
É uma porta sempre aberta em qualquer situação.

O amigo na hora certa, é sol ao meio
dia, estrela na escuridão.

O amigo é bússola e rota no oceano,
porto seguro da tripulação.

O amigo é o milagre do calor humano
que Deus opera no coração.




Bom dia, Rogério. Estou procurando uma escola para a Marcella, minha filha, e como me contaram que você adora a escola em que estuda o seu filho gostaria de saber as razões de tanto elogio. O que essa escola tem de especial?

- É verdade, Alfredo. A escola em que estuda meu filho Gabriel é, realmente, extraordinária e com imenso prazer a indico. Não é uma escola com extraordinários recursos e nem mesmo se destaca pelas promessas de projetos mirabolantes, mas todos os dias percebo em meu filho os três indícios seguros de que acertei na escolha e que o matriculei em uma escola de primeira linha...

- E você poderia me contar quais são esses indícios? Quais as “pistas” devo observar na hora de ter a certeza de que matriculei a Marcella na escola certa?

- Claro. A primeira pista, caro amigo, é a paixão de minha filha por sua escola. Ama seus professores, elogia suas aulas e sinto que cada vez mais amadurece e ama o ato intelectual de aprender pelo trabalho, desafiar-se em cada dia saber mais. Converso com a Marcella todos os dias e não me iludo, sei que ela gosta das amizades, ama os colegas e adora as brincadeiras, mas quanto o assunto se esparrama pelas atividades é ainda com mais entusiasmo que relata seu dia, comenta os projetos que desenvolve, sente a matéria que aprende nas notícias que lê, na novela que assiste, no Shopping que, de vez em quanto, vai com a mãe. A Marcella desenvolveu a capacidade de descobrir que o ato do aprender é tão natural quanto o de saborear uma gostosa fatia de pizza e que as disciplinas na escola a fazem cada vez mais, intervir no mundo...

- Tudo bem. Mas, qual a segunda pista?

- A segunda pista, observo ao deixar minha filha na escola, quando encontro aqui e ali um ou outro de seus professores ou quando participo de reuniões. Esses profissionais, Alfredo, amam o que fazem, “vestem a camisa da escola” com paixão, sentem-se valorizados em sua profissão e com orgulho falam de seus progressos. Em um primeiro olhar parece ser fácil confundir quem ama o que faz e quem é treinado para demonstrar esse sentimento, mas quando se está atento aos detalhes, a clareza dessa percepção é indiscutível. A Direção da escola é presente, atenta, permanentemente “ligada” e sabe fazer de seus professores uma verdadeira equipe, animando seus progressos, estimulando-os a se desafiarem, ajudando-os a vontade de crescer sempre.

- E a terceira razão, Alfredo, você pode até estranhar um pouco, mas se bem compreendida não é menos importante que as duas primeiras...

- E qual é essa terceira razão?

- Eu noto que na escola, Marcella que ainda não completou dez anos apaixonou-se pela política. Mas, curiosamente, essa paixão nada tem a ver com partidos ou opções ideológicas, mas é impressionante como a coesão dos professores despertou em minha filha o exercício do direito à palavra e o sentimento de intolerância às injustiças. Custei para descobrir que esse jeito de Marcella fora adquirido através das aulas que assistia, conquistado nos debates que participava. Algumas vezes encantado, outro até mesmo incomodado com seu espírito crítico, percebo lá em casa como crescia sua indignação e como não se calava quando sentia que alguma injustiça se propunha e que sabia pelas revistas que lia, jornais que buscava, programas que assistia. Enfim, Alfredo, sinto em minha filha crescer a olhos vistos a admiração pela escola em que está matriculada. Com prazer, tenho a certeza que notará o mesmo em seu pequeno Gabriel.




Maria Preta
A professora Maria, preta, gorda, lustrosa é um modelo de simpatia. Enorme, não passa de frente por lugares que as outras passam e, dessa maneira, sempre vira de lado para que seu corpo volumoso possa atravessar as portas estreitas e alguns espaços apertados de sua escola. Apesar de seu tamanho gigante, sempre chega à escola meia hora antes do início das aulas.

Isso fazia parte de sua rotina, pois compreendia que não pode iniciar as atividades sem preparar o ambiente, organizando o espaço de maneira que o mobiliário e o material facilitassem a atividade autônoma dos alunos. Em sua sala, por sua conta e risco e colaboração das famílias que podiam jamais faltava para material de limpeza, cantinho para os jogos, lugar para os livros de história, recipientes plásticos com material de pintura e até uma estante onde se acomodam alguns velhos instrumentos musicais. Todos os alunos de Maria sabiam sempre o lugar de todas as coisas.

Após o sinal de cada dia as crianças chegavam e como já haviam aprendido a se apropriar do espaço e familiariza-se com os móveis, sabia também as tarefas cotidianas, anteriormente planejadas desde regar as flores, até fechar portas sem barulho, movimentar as cadeiras com serenidade. Os alunos de Maria não percebiam que aprendiam, mas já sabiam como dominar seus movimentos, coordenando-os as suas tarefas, agindo, colocando e mantendo as coisas em ordem. A professora não tem obsessão pela ordem, mas sabe que seus alunos necessitam aprender a se situar no mundo, cooperando sempre, sem precisar de ninguém.

Aprenderam também, sem nem perceber que aprenderam, que lavar às mãos é essencial, pendurar casacos necessário, por o avental faz parte da rotina. Sabem usar o banheiro, aprenderam o valor dos alimentos e ao mesmo tempo aprenderam a comer, sabendo se servir e ajudar os colegas, se necessário. Em verdade, os alunos de Maria aprendem mesmo é se tornar independentes, ser autônomos, descobrindo que podem por si mesmas na escola e em casa, viver sem ter que pedir o que não precisa ser pedido, resolver situações com criatividade, controlar a ansiedade. Sabem o que é liberdade e com usá-la, jamais perguntam o que sozinhos sabem descobrir.

Nas aulas com Maria aprendem a cumprimentar, as regras essenciais para jogar, como desenvolveram hábitos de se despedir, escutar e somente interromper uma conversa, se essencial. Aprenderam a fazer amizades, receber bem os colegas novos, cuidar-se com serenidade dos adultos que deles se aproximam. Descobriram, experimentando e exercitando em sala como se comportar nos transportes e nos lugares públicos e que assim agir é forma de civismo, mas é forma de independência também.

Em aula, muitas se equilibram sobre uma linha e aprendem a dominar movimentos do corpo e dirigir com atenção o pensamento, se é hora de exercitar o pensar. Brincam com figuras geométricas e apreendem suas formas, interessa-se por sua cor. Aprendem a lamber, pois é essencial que aprimorem o paladar, sabem ver, pois praticaram experiências para perceber que ver é mais que olhar e que é coisa que na escola se aprende. Existem momentos para aprimoram o tato, comparar texturas, identificar cheiros e dramatizar com jogos diferentes, muitas vezes, as coisas que aprendem.

Quando chega a hora de aprenderem com letras do alfabeto, constroem palavras e com números organizam equações. Algumas apanham cartões classificados, escrevem as idéias propostas em seu caderno e não poucas vezes somam, dividem, brincam de banco ou de mercearia. Uma delas, vez ou outra procurando pintar o que desenhou deixa cair um vaso com água. Ninguém se assusta e Maria, sempre sorrindo, não se sobressalta. Não há risos e nem tensão e o próprio aluno, ajudado por um amigo, se encarrega de apanhar o material de limpeza e enxugar o chão.

Existem dias em que trabalham artes plásticas, aprendem a misturar cores, desenhar, modelar, cortar e colar, furar, decorar, colar. Descobrem que existe autonomia e liberdade, mas que bom gosto se aprende. Em outros dias é com música que se trabalha e tem hora para cantar, dançar, improvisar, adivinhar sons que propositalmente Maria esconde. Há também dias de pesquisar, observando caracóis, aprendendo com formigas, pesquisando abelhas, acompanhando a semente germinar no algodão úmido.

O currículo para os alunos de Maria não é muito diferente com outros de outras escolas, a diferença, entretanto é que não ordena a criança o que ela precisa fazer, mas mostra o fazer fazendo. Além disso, seus alunos nunca se sentem culpados e não tem medo de errar, pois aprenderam que o erro faz parte do processo e que nenhum erro é sério quando se aprende como corrigi-lo e tentar não mais errar. Sabem que muitas vezes o colega é o melhor professor. Seus alunos muitas vezes trabalham individualmente, mas existem atividades em pequenos grupos e atividades que toda classe participa coletivamente. Maria não precisa ficar repetindo o que todos já sabem: Aprender significa ser protagonista de sua própria aprendizagem. Não lembra a cada instante a mensagem que nunca esquecem: Toda pessoa é livre para agir, o único limite é a liberdade do outro. A sala de aula “ferve" em atividades, mas o ambiente é serenamente tranqüilo e a imensa Maria, trabalhando muito, parece sempre descansar. Maria, preta, gorda, lustrosa, simpática, imensa incorporou sem jamais conhecer pessoalmente uma outra Maria, morta há tempos e de sobrenome Montessori.

Nenhum comentário:

Postar um comentário