domingo, 16 de setembro de 2012

Crônicas Engraçadas


VÓ CAIU NA PISCINA


Noite na casa da serra, a luz apagou. Entra o garoto:
– Pai, vó caiu na piscina.
– Tudo bem, filho.
O garoto insiste:
– Escutou o que eu falei, pai?
– Escutei, e daí? Tudo bem.
– Cê não vai lá?
– Não estou com vontade de cair na piscina.
– Mas ela tá lá...
– Eu sei, você já me contou. Agora deixe seu pai fumar um cigarrinho descansado.
– Tá escuro, pai.
– Assim até é melhor. Eu gosto de fumar no escuro. Daqui a pouco a luz volta. Se não voltar, dá no mesmo. Pede à sua mãe pra acender a vela na sala. Eu fico aqui mesmo, sossegado.
– Pai...
– Meu filho, vá dormir. É melhor você deitar logo. Amanhã cedinho a gente volta pro Rio, e você custa a acordar. Não quero atrasar a descida por sua causa.
– Vó tá com uma vela.
– Pois então? Tudo bem. Depois ela acende.
– Já tá acesa.
– Se está acesa, não tem problema. Quando ela sair da piscina, pega a vela e volta direitinho pra casa. Não vai errar o caminho, a distância é pequena, você sabe muito bem que sua avó não precisa de guia.
– Por quê cê não acredita no que eu digo?
– Como não acredito? Acredito sim.
– Cê não tá acreditando.
– Você falou que a sua avó caiu na piscina, eu acreditei e disse: tudo bem. Que é que você queria que eu dissesse?
– Não, pai, cê não acreditou ni mim.
– Ah, você está me enchendo. Vamos acabar com isso. Eu acreditei. Quantas vezes você quer que eu diga isso? Ou você acha que estou dizendo que acreditei mas estou mentindo? Fique sabendo que seu pai não gosta de mentir.
– Não te chamei de mentiroso.
– Não chamou, mas está duvidando de mim. Bem, não vamos discutir por causa de uma bobagem. Sua avó caiu na piscina, e daí? É um direito dela. Não tem nada de extraordinário cair na piscina. Eu só não caio porque estou meio resfriado.
– Ô, pai, cê é de morte!
O garoto sai, desolado. Aquele velho não compreende mesmo nada. Daí a pouco chega a mãe:
– Eduardo, você sabe que dona Marieta caiu na piscina?
– Até você, Fátima? Não chega o Nelsinho vir com essa ladainha?
– Eduardo, está escuro que nem breu, sua mãe tropeçou, escorregou e foi parar dentro da piscina, ouviu? Está com a vela acesa na mão, pedindo para que tirem ela de lá, Eduardo! Não pode sair sozinha, está com a roupa encharcada, pesando muito, e se você não for depressa, ela vai ter uma coisa! Ela morre, Eduardo!
– Como? Por que aquele diabo não me disse isto? Ele falou apenas que ela tinha caído na piscina, não explicou que ela tinha tropeçado, escorregado e caído!
Saiu correndo, nem esperou a vela, tropeçou, quase que ia parar também dentro d’água.
– Mamãe, me desculpe! O menino não me disse nada direito. Falou que a senhora caiu na piscina. Eu pensei que a senhora estava se banhando.
– Está bem, Eduardo – disse dona Marieta, safando-se da água pela mão do filho, e sempre empunhando a vela que conseguira manter acesa. – Mas de outra vez você vai prestar mais atenção no sentido dos verbos, ouviu? Nelsinho falou direito, você é que teve um acesso de burrice, meu filho!

ANDRADE, Carlos Drummond de. Vó caiu na piscina. Rio de Janeiro: Ed. Record, 1996.



Interpretação de texto:

1. Leia o trecho: 
− Pai, vó caiu na piscina.
− Tudo bem filho.

a. O que Nelsinho quis dizer?

b. O que Eduardo entendeu?
c. O que causou a confusão?

2. No texto, predomina o diálogo, ou seja, as personagens conversam.
    Observe os sinais de pontuação e responda.

a. Para que serve os dois- pontos?
 b. Para que serve o travessão?

3. Qual é o clímax da história?

4. Você concorda com a fala de dona Marieta quando ela diz que o filho teve “acesso de burrice”? Explique o que entendeu.

5. Copie o texto no caderno trocando a linguagem coloquial pela culta.

NO RESTAURANTE

- Quero lasanha.
Aquele anteprojeto de mulher - quatro anos, no máximo, desabrochando na ultraminissaia - entrou decidido no restaurante. Não precisava de menu, não precisava de mesa, não precisava de nada. Sabia perfeitamente o que queria. Queria lasanha.
O pai, que mal acabara de estacionar o carro em uma vaga de milagre, apareceu para dirigir a operação-jantar, que é, ou era, da competência dos senhores pais.
- Meu bem, venha cá.
- Quero lasanha.
- Escute aqui, querida. Primeiro, escolhe-se a mesa.
- Não, já escolhi. Lasanha.
Que parada - lia-se na cara do pai. Relutante, a garotinha condescendeu em sentar-se primeiro, e depois encomendar o prato:
- Vou querer lasanha.
- Filhinha, por que não pedimos camarão? Você gosta tanto de camarão.
- Gosto, mas quero lasanha.
- Eu sei, eu sei que você adora camarão. A gente pede uma fritada bem bacana de camarão. Tá?
- Quero lasanha, papai. Não quero camarão.
- Vamos fazer uma coisa. Depois do camarão a gente traça uma lasanha. Que tal?
- Você come camarão e eu como lasanha.
O garçom aproximou-se, e ela foi logo instruindo:
- Quero uma lasanha.
O pai corrigiu:
- Traga uma fritada de camarão pra dois. Caprichada.
A coisinha amuou. Então não podia querer? Queriam querer em nome dela? Por que é proibido comer lasanha? Essas interrogações também se liam no seu rosto, pois os lábios mantinham reserva. Quando o garçom voltou com os pratos e o serviço, ela atacou:
- Moço, tem lasanha?
- Perfeitamente, senhorita.
O pai, no contra-ataque:
- O senhor providenciou a fritada?
- Já, sim, doutor.
- De camarões bem grandes?
- Daqueles legais, doutor.
- Bem, então me vê um chinite, e pra ela... O que é que você quer, meu anjo?
- Uma lasanha.
- Traz um suco de laranja pra ela.
Com o chopinho e o suco de laranja, veio a famosa fritada de camarão, que, para surpresa do restaurante inteiro, interessado no desenrolar dos acontecimentos, não foi recusada pela senhorita. Ao contrário, papou-a, e bem. A silenciosa manducação atestava, ainda uma vez, no mundo, a vitória do mais forte.
- Estava uma coisa, heim? - comentou o pai, com um sorriso bem alimentado. - Sábado que vem, a gente repete... Combinado?
- Agora a lasanha, não é, papai?
- Eu estou satisfeito. Uns camarões tão geniais! Mas você vai comer mesmo?
- Eu e você, tá?
- Meu amor, eu...
- Tem de me acompanhar, ouviu? Pede a lasanha.
O pai baixou a cabeça, chamou o garçom, pediu. Aí, um casal, na mesa vizinha, bateu palmas. O resto da sala acompanhou. O pai não sabia onde se meter. A garotinha, impassível. Se, na conjuntura, o poder jovem cambaleia, vem aí, com força total, o poder ultra-jovem.

ANDRADE, Carlos Drummond. Crônicas I - “Para Gostar de Ler 1”. São Paulo: Editora Ática; 2005. 27º Edição


Interpretação:
  1. Com que detalhes físicos o narrador descreve a menina?
  2. Quais os pormenores do comportamento dela?
  3. Qual o conflito vivido pelo pai e pela menina?
  4.  Nesse conflito, houve um momento em que a vitória parecia pender para o lado do pai, mas a filha venceu. Explique.
  5. Que reações tiveram as pessoas que estavam no restaurante durante o conflito?
  6. Qual é a mensagem deste texto?
  7. Qual a diferença entre poder jovem e poder ultrajovem?
  8. Explique o que significa “sorriso bem alimentado do pai”?
  9. Qual a frase escrita na linguagem popular que significa “ nós comemos uma lasanha”?
  10. Quais os sinônimos de “bem bacana” e “tá” na linguagem culta?
  11. O que significa “ uma vaga de milagre”?
  12. Em que sentido a menina de 4 anos é um anteprojeto de mulher?

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Sete de Setembro

  

Não é de se estranhar que a Provincia de S.Paulo estivesse em pé de guerra.D.Pedro foi aconselhado a ir lá para apaziguar os ânimos,depois que a Bernarda deFrancisco Inácio depôs Martim Francisco,irmão de José Bonifacio e tomou o poder.D.Pedro sentiu-se insultado e cavalgou para S.Paulo.Entregou as rédeas do governo á Imperatriz,que tornou-se assim,a primeira mulher a ocupar a direção do governo,no Brasil.O Principe chegou,viu e venceu e,só saiu da província a 5 de setembro para ir até Santos.No meio da tarde,ás margens do Riacho Ipiranga,já atacado de desinteria,que o faria parar a todo momento,saltou uma vez mais para desafogar-se,quando, ainda abotoando a fardela recebeu das mãos dePaulo Brigaro,correio da Corte,documentos enviados por D.Leopoldina e José Bonifacio,pedindo que ele voltasse logo,pois,as Cortes portuguesas anularam medidas tomadas pelo Principe,exigia que ele demitisse ministros da sua escolha e o acusavam de subversão e traição.Fulo de raiva,ao ler o despacho de Bonifacio que dizia”de Portugal,só podemos esperar escravidão e horrores”,o Principe,impetuoso,reuniu a guarda e falou:
-As Cortes Portuguesas querem mesmo nos escravizar,passam por cima da minha autoridade e perseguem-nos.De hoje em diante ,nossas relações estão quebradas.Nenhum laço,nos une mais.Arrancou ,com raiva,o lenço azul e branco que trazia na manga,símbolo da raça portuguesa,e gritou:
-Laços fora,soldados!Viva a Independencia,a Liberdade e a separação do Brasil!Desembainhou a espada e voltou a bradar:
-Pelo meu sangue,pela minha honra,pelo meu Deus,juro fazer a liberdade do Brasil!E,já de pé nos estribos,afirmou a divisa do Brasil Independente:-Independencia ou Morte!Era exatamente 4 horas da tarde do dia 7 de setembro de 1822.Entrou em S.Paulo dando vivas á Independencia,lá mesmo escreveu o Hino e foi finalmente aclamado Imperador e Defensor Perpétuo do Brasil,no dia 12 de outubro de 1822,data do seu aniversario.

Hino Nacional

A letra do hino nacional do Brasil foi escrita por Joaquim Osório Duque Estrada (1870 – 1927) e a música é de Francisco Manuel da Silva (1795-1865). Tornou-se oficial no dia 1 de setembro de 1971, através da lei nº 5700.
Existe uma série de regras que devem ser seguidas no momento da execução do hino. Deve ser executado em continência à Bandeira Nacional, ao presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal e ao Congresso Nacional. É executado em determinadas situações, entre elas: cerimônias religiosas de cunho patriótico, sessões cívicas e eventos esportivos internacionais.  
Vocabulário (Glossário)

Plácidas: calmas, tranqüilas
Ipiranga: Rio onde às margens D. Pedro I proclamou a
Independência do Brasil em 7 de setembro de 1822
Brado: Grito
Retumbante: som que se espalha com barulho
Fúlgido: que brilha, cintilante
Penhor: garantia
Idolatrada: Cultuada, amada
Vívido: intenso
Formoso: lindo, belo
Límpido: puro, que não está poluído
Cruzeiro: Constelação (estrelas) do Cruzeiro do Sul
Resplandece: que brilha, iluminidada
Impávido: corajoso
Colosso: grande
Espelha: reflete
Gentil: Generoso, acolhedor
Fulguras: Brilhas, desponta com importância
Florão: flor de ouro
Garrida: Florida, enfeitada com flores
Idolatrada: Cultivada, amada acima de tudo
Lábaro: bandeira
Ostentas: Mostras com orgulho
Flâmula: Bandeira
Clava: arma primitiva de guerra, tacape